O Instituto de Ciências Exatas (ICE) da Universidade Federal do Amazonas(UFAM) está localizado no Campus Universitário de Manaus e funciona há quase 35 anos em galpões ainda provisórios com infra-estrutura precária. As instalações definitivas eternamente prometidas estão condicionadas ao repasse de verbas cada vez mais escassas pelo governo federal.
Os indícios de favelização da universidade podem ser visualizados em vários pontos do ICE, sendo o mais agudo o bloco J, cujas salas de aulas depredadas e sujas desencantam muitos estudantes. Por falta de espaço banheiros foram transformados em laboratórios e os que restam não são suficientes para atender às demandas do instituto. Corredores mal iluminados assustam àqueles que por lá transitam quando não são perseguidos por cães, gatos e outros animais abandonados e doentes, a lamber, a cheirar e algumas vezes a morder pessoas em salas de aula e lanchonetes.
A favela também tem cheiro. Em parte do ICE, há quase 4 anos pode-se sentir um odor de fossa tão intenso de origem ainda desconhecida e sem perspectiva de melhoria a curto prazo. Enquanto isto, muitas aulas ainda serão interrompidas pelo cheiro intermitente.
Toda esta paisagem é regada com constantes falta de energia elétrica, água e internet comprometendo pesquisas, aulas e eventos. Para melhor exemplificar, a 25a Semana de Estatística do Amazonas realizada ano passado, ocorreu num momento de falta de água no instituto, com alguns professores convidados levados a um shopping próximo da UFAM para fazerem suas necessidades mais básicas. Isto tudo é muito constrangedor!!
O processo de favelização alcança à docência de várias formas. Além do ambiente deficiente e insalubre, nos últimos 10 anos tem-se constatado a redução do quadro de docentes efetivos e aumento significativo do volume de trabalho. Ademais, verifica-se nos departamentos a expansão do número de alunos por turma, da quantidade cursos e disciplinas. A relação professor substituto e efetivo tem crescido ao mesmo tempo em que há poucos professores da carreira disponíveis para assumir cargos e outras atividades administrativas. Estas, não são mais atrativas pelo desgaste causado pela ausência ou redução drástica de pessoal de apoio. Há departamentos sem algum funcionário, cujos professores, além de suas funções, desempenham também serviços de secretária e de office boy, não desmerecendo estas profissões.
Até a metade do último semestre havia no ICE turmas sem salas de aula ou sem professores demonstrando que o atual espaço físico e recursos humanos disponíveis não são suficientes para atender as demandas correntes.
Apesar de todo este cenário, a UFAM segue em frente tocada com o suor, lágrima e sangue de seus professores e funcionários. Assiste-se silenciosamente ao desaparecimento prematuro de colegas além de relatos constrangidos de casos na comunidade de hipertensão, problemas cardíacos e neurológicos, impotência sexual, transtornos como depressão, pânico, toc e outras enfermidades relacionadas ao estresse devido à precaridede do trabalho docente. Nestes momentos, quanto mais se precisa não há como contar com o apoio dos hospitais universitários (HU`s), que neste momento também agonizam.
O que os professores podem esperar do futuro, além de salários aviltados, SERASA e degradação da qualidade de vida? E em termos institucionais, como resistir a eliminação da pesquisa científica ainda não consolidada e a transformação da UFAM em um grande colégio de 3o grau?
Enquanto alguns colegas se deslumbram com o enfeitiçamento do REUNI, fica a pergunta: Como pensar em expansão se os recursos acenados pelo REUNI não são suficientes nem para sanar o atual estado de sucateamento das universidades?
Leia também o texto que reflete sobre REUNI e as políticas do PT para as universidades públicas:
http://ciencia-e-iluminismo.blogspot.com/2007/09/arautos-e-incautos.html
Um comentário:
O texto é excelente, porem o cenário é triste, desolador.
O que fazer?
Quem sabe procurar OUTRO lugar para trabalhar. Este planeta é muito grande.
postei seu texto no blog do Ciencia Brasil.
http://cienciabrasil.blogspot.com
(post de 14 de setembro)
abraços
Marcelo (prof da UnB)
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