quinta-feira, 6 de abril de 2017

Jack Kerouac - O vagabundo iluminado


O meu vagabundo preferido. 
        Faz tempo que o encontrei, perdido em uma revista, entre reportagens sobre a geração beat nick, anterior aos hippies. Na época, meados dos anos 70, fazia um trabalho e deveria escolher um tema literário para comentar e expor na Feira do Livro do meu colégio, Instituto Christus, em Manaus. 
        A primeira impressão foi impactante, não consegui dormir ao saber que não havia livros de Jack Kerouac (JK) nas livrarias e bibliotecas da cidade, não conseguia ainda connectar este fato com a ditatura mitalitar.  Depois de longa procura, pesquei  na biblioteca do ICBEUO apanhador no campo de centeio de J.D. Sallinger, livro que foi tema da minha exposição. No entanto, Kerouac e a revista com a reportagem ficaram guardados por anos no escaninho mais inacessível do meu armário.
        Dez anos mais tarde, em uma festa muito louca na Vivenda Verde, lá estava Kerouac bem na minha frente. Não acreditava no que estava vendo, seria o efeito do esgotamento físico, após um dia inteiro jogando volei e me hidratando com cerveja preparada artesanalmente por amigos?   Não, não era miragem. Era real, era ele! Estava todo molhado na espreguiçadeira do pátio dos anfitriões da festa. Aproximei-me devagar, olhei para os lados e com muito cuidado tomei-o nas mãos. Estava aos frangalhos, falava português, portava algumas páginas coladas e soltas na edição de bolso de Pé na Estrada, tradução do best seller  On the road
       Naquela noite, não me importava nem  com a penumbra e nem com o barulho da música, entrei pela madrugada absorvendo aquela obra. Já quase de manhã, ainda não havia acabado de lê-lo,  quando um rapaz acanhadamente esticou a mão pedindo o livro. Devolvi o exemplar  me desculpando e, antes que eu perguntasse alguma coisa, o rapaz apressadamente saiu da festa, para  embarcar em algumas horas para o Rio de Janeiro. 
       Nunca soube o nome daquele rapaz e nunca o perdi da memória.  Ainda hoje guardo detalhes que o tempo não apagou: o cabelo longo e molhado, o jeans despotado e colado no corpo,  olhos avermelhados e sorriso suave.  Adeus Kerouac.
       A geração beat foi o movimento literário da dácada de 50 e 60 nos EUA,  que influenciou gerações e,  além de Jack Kerouac, outros escritores, como Allen Ginsberg, William S. Borroughs, Neal Cassady, Gregory Corso, descreveram suas peripécias e transgressões na efervercência cultural dos bares de NY, seja mantendo um papo filosófico insano com companheiros, ou degustando o melhor do Jazz, ou ainda em exposições de artes e recitais de poesia. Depois para descansar subiam as montanhas  para percorrer o caminho do autoconhecimento,  como mostram  estes fragmentos de JK, em Viajante Solitário:

             "A sabedoria só pode ser obtida sob o ponto de vista da solidão".
         "Nemhum homem deveria passar pela vida sem experimentar pelo    menos  uma vez na vida a saudável e até aborrecida solidão em um lugar selvagem, dependendo exclusivamente de si mesmo e, com isto, aprendendo a descobrir sua verdadeira força"

       A geração beat me acompanha há algum tempo,   presentes nos momentos mais ternos da minha trajetória, companheiros de quarto, de cabeceira, peças indispensáveis na mochila,   mala e nas estantes.  
     O   encontro mais alucinante com Kerouac foi em   Vagabundos Iluminados, tradução de Dharma Bums, nele reencontrei também aquele rapaz dono do livro da festa louca da Vivenda Verde.



Nenhum comentário: