terça-feira, 31 de julho de 2007

Até quando vamos mentir?

Esta pergunta foi título de um discreto artigo no jornal britânico The Guardian, que analisou as recomendações da recente reunião do IPCC, sigla em inglês, do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, ocorrida em Paris.

A matéria chama a atenção para um assunto relacionado ao aquecimento do planeta raramente comentado na grande mídia internacional. Um tema indigesto, quase proibido no mundo democrático.

O desmatamento de imensas áreas florestais e o alto desenvolvimento industrial após a 2a Guerra Mundial não são apresentados na reportagem como as causas mais significativas para a elevação da temperatura da Terra. Há uma lógica subjacente a todas as causas, uma razão principal cujo silêncio midiático é revelador. Daí a pergunta – Até quando vamos mentir?

Os dados divulgados pelo IPCC revelaram que o futuro da vida humana no planeta está comprometido, caso não haja uma reversão urgente nos mecanismos de produção e consumo das sociedades contemporâneas. Isto é fato!

Os cientistas reunidos em Paris recomendaram, entre outras ações, a necessidade imediata das nações estabeleçam limites para emissão de gases e partículas poluentes na atmosfera. Os atuais níveis de quase 500 partes por milhão (ppm), já são suficientes para aumentar a temperatura média da Terra em 5 graus Celsius nos próximos 50 anos. Com os atuais índices, os estragos decorrentes do efeito estufa já são verificados no descongelamento de grandes glaciais, no desequilíbrio entre as correntes quentes e frias dos oceanos, no aumento da intensidade e freqüência dos furacões e tornados, nas inundações e na savanização da Amazônia.

A Grã-Bretânia e os países da Comunidade Européia comprometeram-se com o limite de 550 ppm enquanto os Estados Unidos não aceitam nem discutir a idéia do seu uso. Pelo visto o planeta ainda responderá às devastações ambientais com muitos espasmos na forma de catástrofes.

Um consenso na reunião do IPCC, é que os Estados e as pessoas precisam puxar o freio de mão no consumo e desacelerar a produção, mas esta recomendação é incompatível com os princípios que norteiam as sociedades atuais. Como reduzir em 60% os níveis de poluentes atmosféricos se a ética das sociedades dominantes ensina que a felicidade está na acumulação de bens materiais? Como destruir a mão quase invisível que reduz cidadãos a consumidores e que dilui as diferenças entre o supérfluo e o necessário? Quem vai pagar a conta do aquecimento?

Na resposta a estas questões, talvez esteja escondido o silêncio das grandes corporações de comunicação e um novo desafio para a Engenharia de produção.

Nenhum comentário: