terça-feira, 9 de novembro de 2010
O voto insosso
Foi o meu voto no segundo turno na última eleição à Presidência da República. A manifestação de alguém que luta há tempos por um projeto de desenvolvimento sustentado para o Brasil e o viu derrotado nas urnas no primeiro turno.
O dilema no turno seguinte não foi nada banal, por não ter sido um voto qualquer, não foi mais aquele voto intensamente desejado, o voto do ponto de encontro entre o meu passado e o futuro sonhado. Foi um voto angustiado, por ter que me decidir entre um programa RUIM e outro PERVERSO. Programas que não pautaram os principais problemas brasileiros, menosprezando temas como socio-ambientalismo, sustentabilidade e desenvolvimento com “baixo carbono”. E em vez disso, preferiram navegar no campo do pessoal, do particular e íntimo dos candidatos, ressuscitando o obscurantismo da velha e TENEBROSA Idade Média.
A última eleição revelou-me, também, um fato inusitado, de ter que escolher o melhor INIMIGO. Amigo a gente escolhe, mas inimigo foi a primeira vez. O significado daquela “simples” ação, está no futuro do presente - nas forças que haverei de aliar-me, representadas pelo melhor inimigo, no combate aos grupos portadores de interesses socialmente mais excludentes, menos libertários e menos nacionais. Por outro lado, o fato CONFIRMADO não excluirá o meu silêncio diante dos enganos e atitudes também indecentes do melhor INIMIGO.
Daí o voto insosso ter sido um voto incômodo, parido sem o entusiasmo do primeiro turno e destituído de cor, sem ter sido branco nem nulo. Amargamente digerido com o paladar dos outros, o voto do “nem fede nem cheira”, mas desculpe-me o termo chulo, o voto que poderá dar CAGANEIRA.
O voto insosso, ao contrário do que escrevem os “especialistas”, escondeu muito mais do que revelou. Revelou desânimo mas escondeu a disposição para luta em outras ações coletivas do cotidiano tão importantes para a sociedade quanto as eleições. Escondeu também as TRINCHEIRAS, o lugar que nunca deverei abandonar. Mas sobretudo o que o voto insosso não revelou, apesar da incerteza e desesperança no governo do inimigo escolhido, foi a vontade latente de um mundo melhor, mais justo, mais fraterno e mais humano a ser construído.
Amazoneida Sá Peixoto Pinheiro
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Um comentário:
Neidinha,
Se o seu corpo rejeitou as eleições, a minha mente perdeu a fé na inteligência do português.
Portugal encontra-se na pior situação económica de que tenho memória (já sou pós 25 Abril...), a abrir portas ao FMI, e não é que o meu povinho reelege o Aníbal (Cavaco Silva)? Já depois de ter reeleito o 1º ministro?
É fácil criticar, mas a verdade é que têm sido muitos anos de desgovernação e as alternativas eram tão péssimas que quase votei num borgesso desconhecido vindo da ilha da Madeira, mas acagacei-me e pumba, nulo. Como eu muitos outros portugueses se recusaram a dar votos, devemos ter tido o maior índice de nulos de todos os tempos.
Não sabia que também usavam a palavra "caganeira", em grande estilo.
Mais umas palavras... o nosso 1º ministro foi anteriormente ministro do ambiente e as políticas ambientais passaram despercebidas. Isto aqui está tão espectacular (ai! com o acordo ortográfico agora é espeta-cu-lar) que são os portugueses que pensam em emigrar para o Brasil e a imprensa já divulga que se procuram engenheiros aí. Se isto engrossar... :D
Beijos da Tuga MarGo
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