terça-feira, 10 de julho de 2007

A rua Saint Hilaire

Era final de tarde de uma segunda-feira. Havia retornado ali para me despedi de alguns amigos. Parecia que nada havia mudado, as casas geminadas, poucos prédios, o salão de beleza, a pizzaria, todos ainda estavam lá. Como as segundas-feiras de outros tempos, ainda estava deserta.
Não estava ali só pelos amigos, precisava encontrar seus moradores mais ilustres. Precisava revê-los, ouvir-los antes de partir. ...
Ainda guardo na memória a primeira vez que conheci aquele lugar. Perambulava pela cidade a procura de um apartamento para morar quando num passo de mágica entrei numa rua sem saída. Eles estavam no asfalto, nas calçadas, nos prédios, ocupavam todos os espaços. Por eles, os carros e as pessoas ficavam mais suaves. Todo aquele cenário que acabara de vislumbrar era para mim uma referência de qualidade imobiliária, nunca levada em consideração pelos corretores de imóveis....
Naquela tarde, porém, esperava por eles angustiadamente, mas não apareciam. Enquanto esperava, caminhava como os outros traseuntes de uma segunda-feira qualquer. Sentia-me como um fantasma, já não pertencia mais aquele lugar, ninguém mais me reconhecia. Já não me sentia à vontade, controlava movimentos e posturas. Percebia discretamente que o porteiro de um edifício me observava desconfiado. Constrangida, disfaçava como estivesse procurando por algum objeto pessoal. Decidi ir embora em direção a única saída daquela que fora, por alguns anos, a minha rua.
De repente, escutei murmúrios que aos poucos tornaram-se mais nítidos. Eram eles chegando, humanizando, colorindo a velha paisagem acinzentada. Não conseguia mais identificá-los, possuiam novos rostos, novas fisionomias. Eram outros meninos, outras meninas, outros cachorros, bichos, outras bicicletas e outras bolas. ...
A chuva fina avisava para apressar o passo. Na esquina, o garçon da pizzaria acenava-me timidamente, receioso que não o reconhecesse. Dobrei a esquina e a passos largos distanciava-me cada vez mais. A poucas quadras dali, caminhava pela av. Paulista em mais uma segunda-feira que terminava.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amo essa rua ! A rua em si, nem ligo para as pessoas... ;-)